A grande bobagem sobre IA
"Quem tem ouvidos para ouvir, ouça"

Resolvi escrever mais uma vez sobre IA, e sobre os efeitos que ela pode nos causar, porque vira e volta tenho me deparado com os mesmos comentários, de sempre, na web: que a IA é algo sem precedentes na história da humanidade, que ela vai mudar, radicalmente, nossa relação com o trabalho e mais um monte de blá, blá, blá. E quem achou que eu iria discordar, errou, pois, sim, a IA tem lá suas diferenças em relação a outras tecnologias, ela pode ser inclusive o que ela pensa que é, mas, nem por isso deixarei de colocar aqui meu contraponto. Deixarei de escrever o que enxergo não somente sobre IA, mas também sobre as novas tecnologias que surgem todos os dias. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
Estimados humanos! Sendo formado em tecnologia da informação, não faria o menor sentido eu não reconhecer os inúmeros benefícios que a tecnologia vem nos propiciando, em especial, a partir da revolução industrial. Mas, pensem comigo! Embora estejamos vivenciando um momento, aparentemente, ímpar, de avanços tecnológicos, proporcionalmente, nós também já passamos por outros momentos que mudaram nossos hábitos e nos trouxeram apreensão. Ou porque não dizer outros momentos disruptivos. Senão vejamos! Foi assim, como já citei, durante o período da revolução industrial (quando acreditamos que as máquinas iriam substituir a mão de obra humana), foi assim quando os computadores se tornaram acessíveis a todos (e achamos que íamos ser substituídos por eles). Não foi diferente quando os celulares surgiram, quando a indústria 4.0 chegou (e máquinas se interligaram com sistemas, internet) ou quando as redes sociais explodiram. Enfim, caros seres humanos, em cada um desses momentos, desde que o mundo é mundo, nós sempre fomos e sempre seremos impulsionados a repensar nossa relação com as novas tecnologias.
Bom! Então por que seria diferente dessa vez com a inteligência artificial? E lhes respondo: como diria o sagaz Mister Magoo, “Oh, sim, sim, eu lhes digo”. Não, não é! A era da IA não é, nadica de nada, diferente de outras eras que já passamos. E por quê? Por um único motivo: como escrevi no meu livro “Células Sociais Caórdicas – o caminho para um novo mundo”, as mudanças tecnológicas são, e sempre serão, uma constante. Elas sempre nos trarão novas e mais novas possibilidades. Ou alguém acredita que a coisa vai parar por aí? ‘Elementar, meu caro Watson!’ Claro que não! O que nos leva a concluir que ela, tecnologia, não pode ser, de forma alguma, o objeto das nossas discussões, mas sim aquilo que é variável, justamente, nossa decisão, humana, de utilizá-la para o nosso bem e para o bem do planeta. Em outras palavras, aqui, não estamos diante do dilema do ovo e da galinha. A tecnologia será sempre meio para melhoria da vida dos seres humanos e ponto! Nós somos o fim! O resto? É conversa para boi dormir!
Pois bem! Apesar da obviedade da situação, nós, seres ditos inteligentes, infelizmente, não estamos sabendo colocar as tecnologias, assim como também fazemos com dinheiro, no seu devido lugar: a nosso serviço. Estamos colocando o carro na frente dos bois. Usando a nossa criação contra nós mesmos, quando deveríamos utilizá-la para o nosso próprio bem-estar e do planeta. Aliás, diante das nossas ações, me veio à mente uma singular frase de Einstein: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, eu ainda não tenho certeza absoluta”. Sinceramente? Acredito que Einstein ainda pegou leve com nossa espécie. Mas, como esse texto tem um propósito de trazer uma nova perspectiva para os problemas da humanidade, olhemos para o futuro de forma esperançosa! Mostremos para Einstein que sua teoria estava errada.
Imaginem, então, se ao invés de utilizarmos a IA para substituir empregos, nós a utilizarmos para criar soluções para os nossos mais variados problemas. Imaginaram? E se além disso, ainda a usarmos para formar pessoas para lidar com as novas demandas que o mundo precisa em termos de novos trabalhos. Imaginaram? A lógica é bastante simples! “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
Diante dos quase infinitos problemas que temos tais como despoluir rios, limpar oceanos, recuperar biomas devastados, construir moradias decentes para todos, instalar saneamento básico para todos, produzir alimentos para todos, criar energias renováveis, criar indústrias de reciclagem, expandir ferrovias, criar hospitais de qualidade, erguer escolas de qualidade, implantar transporte público de qualidade, integrar centros de pesquisas ou implementar qualquer solução que traga bem-estar às pessoas, ao planeta, de fato, me perdoem a sinceridade, mas, é uma gigantesca estupidez não priorizarmos os seres humanos quando sabemos que a tecnologia, o dinheiro e todos os recursos do planeta, deveriam ser usados a nosso favor.
Sim caros terráqueos! A verdade é uma só: gostemos ou não, nosso foco, hoje, sempre, não pode ser a tecnologia, mas sim como podemos utilizá-la para curar os nossos males. Vou até mais longe: quando utilizarmos as tecnologias que existem a nosso favor, como meio, também resolveremos em grande parte a questão crucial do desemprego. Isso mesmo! Vocês não leram errado. Repito: quando utilizarmos a tecnologia a nosso favor, resolveremos em grande medida a questão do desemprego, pois não importará o que as pessoas faziam antes de perderem seus empregos. Importará o que elas irão fazer.
É claro que, desde que possível, muitos desejarão voltar a trabalhar nas suas atividades de origem, mas só de diferentes possibilidades de trabalho, para melhorarmos o mundo, temos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e suas 169 metas. Está tudo lá, tudo claro para que juntos possamos criar um mundo melhor. Para mudarmos essa situação abominável de sofrimento humano que chegamos. Agora me digam! Se focarmos nossos esforços em tudo que precisamos fazer para salvar o planeta, em tudo que precisamos fazer para que nós, seres humanos, tenhamos qualidade de vida, vai faltar trabalho? Não, não vai! ! “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. Hoje não falta trabalho, hoje falta emprego! E isso ocorre, basicamente, porque a sociedade está, absolutamente, desfocada de onde devemos atuar para gerar bem-estar para todos e para o planeta.
Não acreditam? Pois eu lhes digo, nobres, quase extintos, moradores do planeta! Se não iniciarmos hoje, o quanto antes, a reorganizar essa enorme zona que virou a nossa existência, com todos desnorteados, correndo cada um para um lado, para acumular dinheiro, com pessoas absolut6amente insatisfeitas com os seus atuais empregos, sem terem um propósito maior para chamar de seu (olha! o que eu escuto, um dia sim e outro também, pessoas me falando o quanto não se identificam, em quase nada, com as empresas que trabalham, o quanto elas gostariam de fazer algo com um sentido maior para suas vidas, não está no gibi!).
Em suma, conterrâneos de planeta! Ou abdicamos dessa grande falácia de endeusar cada tecnologia que surge e focamos em gente, de carne e osso, em especial na formação de líderes que possam conduzir a humanidade para um novo patamar, ou vamos todos de mãos dadas, inclusive com a IA, para a cova (que já está aberta).
Bom! Mas como eu gosto muito, muito mesmo, desse planeta único que a evolução ou Deus criou, que diferença faz quem foi, eu só tenho a dizer que a ganância que vem dilacerando nossos valores, a concentração de renda que faz pessoas morrerem de fome, a soberba que tem escravizado a humanidade, o consumo exorbitante que vem saqueando o nosso planeta, a inveja que vem alimentando a competição voraz, a preguiça que nos faz indiferentes e o ódio que torna pessoas em objetos inanimados, não são problemas tecnológicos. São nossos, humanos! Portanto, é hora de priorizarmos a nossa espécie. É hora de apertarmos o nosso botão de reiniciar. Ou o planeta fará isso por nós...
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Henrique Medeiros é autor do livro “Células Sociais Caórdicas – o caminho para um novo mundo”. É formado em Tecnologia da Informação, Pentágono, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, MBA em Diplomacia - Relações Internacionais pela Uninter, Psicanalista pelo IBPC – Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica e um apaixonado pela espécie humana e pelo planeta Terra. Tô nem aí para Marte...
